Explosões de aflições políticas em novo single ‘Na Avenida’, da Vitreaux.

A música faz parte do segundo disco da banda “Na Espera da Fila”, que está previsto para ser lançado no primeiro semestre de 2018

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Viver de música é para os insistentes. No fim da tarde do dia 13 de setembro, estavam Lucas Oliveira (voz/guitarra), João Rocchetti (baixo/vocais), Ivan Liberato (guitarra/vocais) e Guib Silva (bateria) no apartamento do produtor musical Vitor Loureiro, em São Paulo. Decidiram, naquele momento, que no dia seguinte lançariam o primeiro single do próximo disco “Na Espera da Fila”. Passaram a madrugada inteira (e ainda uma boa parte da manhã) gravando, mixando e masterizando. Trabalho feito.

As avenidas são colisões de pensamentos, dos transeuntes, artistas de rua, de meios de transportes, trabalhadores e desempregados, e ainda dos que vivem em situação de rua. Há também panfletos e arte sendo pisoteados no asfalto. É onde a voz ocupa seu território, em um movimento ininterrupto vindo de várias direções. Ali, naquele amplo espaço, pequenos instantes são interdependentes.

As bombas na avenida, também estão na correria da produção musical, gravação de um disco, na luta para se conseguir a vaga no festival, na artilharia rígida regendo o silêncio do cidadão. Na rua, a música, eu, você, nós e eles estamos em "só mais um dia, sem sucesso e solução".

Vitreaux reaparece com um sigle mais político, mesmo que a calma e sensorialidade ainda atravesse as preocupações. Fazem analogia do que se passa no poder público até atingir a política e, principalmente, a vida de quem vive de arte.

Além disso, ‘Na Avenida’ é a primeira música feita em parceria com três membros da Vitreaux - Lucas, João e Ivan. Depois que passaram a dividir não só trabalho, mas vida completa no ‘Departamento de Cordas’, as conversas jogadas dentro da madrugada sempre acabavam em discussões políticas, em significado aberto.

É uma faixa que conversa com “Meia Luz” que já vem sendo tocada em shows da Vitreaux nos últimos meses. São canções mais sóbrias e que carregam um peso. “Vitreaux é uma banda séria agora”, brinca Lucas.

“O disco [Na espera da fila] é um reflexo de 2013, 2014 e de coisas que foram acontecendo nos anos passados. Ficávamos debatendo na madrugada e sempre caíamos em política, sobre viver de música, sem grana e levando muita porrada. Na Avenida é uma música mais pesada, carregada. Ao contrário do primeiro disco [Pra gente poder passear - 2016], que é mais inofensivo”. (Lucas Oliveira)

As marchas e gritos na Paulista, e outras avenidas brasileiras, recebem resposta dos policiais militares com força desmedida. Na cúpula, estão os não-representantes, com nossos direitos decididos em falsos apertos de mãos.

“Bala de canhão no caminho inverso
Bombas na avenida!”
(Na Avenida - Vitreaux - 2017)

‘Na avenida’, pode ser uma continuidade, atual, para versos de Clube da Esquina II. Se os jornais estão “cheio de contratos maquiados por cifrão”, a arte subverte e mostra como a autocracia se refaz na linha do tempo do Brasil.

“Em meio a tantos gases
lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
e basta contar consigo
Que a chama não tem pavio”
(Clube da Esquina n° 2 - Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges - 1972)

release e arte [capa] por: Carime Elmor